「放射脳」é difamação? A avaliação de gírias da internet em casos de calúnia e difamação
Para a maioria das pessoas, a gíria da internet é uma expressão pouco familiar e muitas vezes incompreensível, única do mundo online. Por vezes, é usada para criticar indivíduos ou empresas específicas.
Como é que esta gíria da internet é interpretada e tratada nos tribunais?
Vamos analisar alguns casos reais em que se discutiu se expressões como “cérebro radioativo” ou “empresa DQN” violam o direito à honra.
Publicação intitulada “Cérebro Radioativo”
Resumo do caso
O queixoso é um funcionário de uma empresa que carrega vídeos relacionados ao movimento anti-nuclear numa plataforma de partilha de vídeos e ganha receitas publicitárias. O queixoso alegou que a publicação intitulada “Cérebro Radioativo” num fórum anónimo constituía uma violação dos seus direitos e solicitou a divulgação das informações do remetente.
https://monolith.law/reputation/disclosure-of-the-senders-information[ja]
No fórum, foram publicadas informações específicas sobre o nome verdadeiro e a profissão do queixoso, juntamente com comentários como:
- “Anti-nuclear / Cérebro Radioativo”
- “Famoso por ser autossuficiente em alguns círculos”
- “Auto-indulgente”
- “Indulgente consigo mesmo, mas rigoroso com os outros”
“Cérebro Radioativo” é uma gíria da internet usada para ridicularizar pessoas que distorcem ou exageram factos e informações sobre questões nucleares e de radiação, e que têm um medo excessivo da radiação ou defendem a desativação das centrais nucleares. O queixoso alegou que a sua reputação foi prejudicada por estas publicações.
Por outro lado, o réu argumentou que a publicação era apenas uma “avaliação negativa do queixoso” e que, mesmo que apontasse factos específicos, a menção a “Anti-nuclear / Cérebro Radioativo” era uma “crítica ao discurso do queixoso sobre a questão pública da existência de centrais nucleares”.
Decisão do tribunal
O tribunal reconheceu que as expressões usadas pelo queixoso constituíam uma violação dos seus direitos de reputação. Além disso, o tribunal rejeitou a alegação do réu de que a publicação estava relacionada com “interesses públicos” e ordenou a divulgação das informações do remetente.
Primeiro, o tribunal avaliou a expressão “Cérebro Radioativo” da seguinte forma:
“Cérebro Radioativo” é uma gíria da internet usada para ridicularizar pessoas que distorcem ou exageram factos e informações sobre questões nucleares e de radiação, e que têm um medo excessivo da radiação. (…) Se interpretarmos de acordo com a leitura normal, o queixoso é uma pessoa que distorce ou exagera factos e informações sobre questões nucleares e de radiação, e que tem um medo excessivo da radiação.
Tribunal Distrital de Tóquio, decisão de 12 de setembro de 2014 (Ano 26 da era Heisei)
Se interpretarmos a palavra “Cérebro Radioativo” como uma expressão que ridiculariza o sujeito de acordo com o padrão do “leitor comum” do fórum em questão, é natural que cheguemos a tal decisão.
https://monolith.law/reputation/die-libel-threatening-crime2[ja]
Publicações que mencionam “Empresas Negras” e “Empresas DQN”
Resumo do caso
O seguinte caso também envolve problemas num fórum anónimo. Foram feitas as seguintes difamações na internet contra uma empresa que se dedica à fabricação e venda de equipamentos de engenharia elétrica e química:
- “Empresa Negra”
- “Empresa DQN”
- “Prisão de um dia”
- “Despedimento repentino”
A empresa, alegando que a sua reputação e honra foram prejudicadas, solicitou ao provedor de internet a divulgação das informações do autor da publicação. No entanto, o pedido foi recusado com a justificação de que “mesmo que as expressões ‘Empresa Negra’ e ‘Empresa DQN’ tenham sido usadas, isso não significa que a honra do queixoso foi prejudicada”, levando o caso a tribunal.
Decisão do tribunal
O tribunal reconheceu que a honra do queixoso foi prejudicada pelas publicações que mencionavam “Empresa Negra” e “Empresa DQN”, e ordenou a divulgação das informações do autor.
A expressão “Empresa Negra” foi definida da seguinte forma:
Um termo da internet que se refere a empresas que forçam os seus empregados a trabalhar em condições que violam ou podem violar a lei laboral e outras leis, ou que forçam os seus empregados a realizar atividades comerciais que podem violar várias leis relacionadas, ou que, enquanto utilizam o assédio de poder como uma prática comum, impõem aos seus empregados um fardo físico, mental, financeiro e irracional que não corresponde aos salários e benefícios, que não tem nada a ver com as suas funções originais.
Quanto ao uso da expressão “Empresa DQN”,
“Pode-se reconhecer que é um termo da internet usado como sinónimo de ‘Empresa Negra’. Se julgarmos o conteúdo de uma publicação que contém tal expressão com base na atenção e interpretação de um leitor comum, a publicação dá a impressão de que o queixoso está a reprimir com força aqueles que tentam denunciar o facto de que ele está a forçar os seus empregados a trabalhar em condições terríveis sem cumprir a lei laboral e outras leis. (…) Pode-se dizer que é algo que diminui a avaliação social do queixoso ao apontar factos específicos.”
Tribunal Distrital de Tóquio, sentença de 2 de setembro de 2010 (Ano 22 da era Heisei, 2010)
O tribunal aceitou o argumento do queixoso.
Resumo
Mesmo que seja uma gíria da internet com a qual o público em geral não está familiarizado, será interpretada de acordo com a compreensão do significado dos ‘leitores comuns’ nos fóruns onde é usada. Mesmo que a expressão não seja direta, não há necessidade de desistir de um processo judicial.
Para um julgamento, é necessário preparar adequadamente os documentos, e são necessárias várias verificações sobre o que significa a gíria da internet e se realmente infringe o direito à honra.
Estes procedimentos podem ser difíceis para leigos, por isso recomendamos a consulta a um advogado experiente.
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